Verdades e tabus sobre uso do cordão de identificação para PCD

25/07/2023
13:01:46

O Governo Federal sancionou na última segunda-feira (17), a lei que formaliza a fita com desenho de girassóis para identificação de pessoas com deficiências ocultas. A notícia levantou um debate na sociedade sobre o uso e relevância dos cordões.

 

A fita de girassol não é a única utilizada, há também o cordão com peças de quebra-cabeça para identificar pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Jocasta Oliveira é mãe da Anna Júlia, de 5 anos, que faz o uso do cordão desde os três anos de idade. A mãe diz que o cordão é muito mais do que um adereço no pescoço. “Ela está sempre com o cordão, pois além de facilitar a identificação dela, já que os documentos sempre estão juntos, também identifica que possui alguma deficiência. Já aconteceu de em momentos de crises eu receber ajuda das pessoas porque puderam identificar que ela era uma criança com autismo.”, comenta Jocasta. 

 

A lei sancionada prevê que pessoas com deficiências ocultas possam utilizar o cordão de girassol como forma de facilitar a identificação e garantir os direitos a ela reservados. O cordão não é de uso obrigatório e não substitui a necessidade da apresentação do documento comprobatório de deficiência, caso seja solicitado. 

 

Alexandra de Castro, mãe da Esther, diz estar otimista com a aprovação da lei e espera que com ela as pessoas passem a respeitar o uso e os direitos previstos. “Ester começou a usar o cordão dela há pouco tempo, mas eu já consigo perceber que muitas pessoas ainda não respeitam. Algumas olham para ela e fingem que não viram para não precisar dar preferência seja em transporte, em filas ou em qualquer outro lugar.”, relata a mãe. 

 

“Depois que a Júlia passou a usar o cordãozinho, nós tivemos mais experiências positivas do que negativas. O preconceito infelizmente ainda vai existir, com ou sem a fita.” relata Jocasta. Os olhares atravessados e o preconceito é um dos motivos que levam muitas pessoas a optarem por não utilizar o cordão. Uma ferramenta útil mas que acaba não sendo utilizada em toda sua potencialidade pela falta de conhecimento e julgamento da população. 

 

“Ela é uma das poucas crianças que vejo que utilizam o cordão de identificação. Por isso, tivemos uma certa resistência em usar também. Mas hoje vejo que ele traz benefícios.”, diz Daniela Santos, mãe da Lorena, que utiliza seu cordão com identificação para TEA há 3 meses. Lorena tem 8 anos e ela mesma comenta sobre não gostar de utilizar o cordão. Por incentivo do médico neurologista, a garota passou a usar a fita de quebra-cabeça e está passando por um período de adaptação e aceitação. 

 

Outro ponto em comum destacado pelas mães é a falta de conhecimento da população sobre o significado do cordão. As três mães entrevistadas relataram experiências parecidas sobre a falta de conhecimento popular da fita e quais os direitos previstos para pessoas que a utilizam. “Já conversei com muitas pessoas na rua que ficam na dúvida sobre esse crachá que ela usa. Infelizmente isso ainda acontece.”, revela Daniela.   

 

Com a aprovação da nova lei, profissionais da área acendem um alerta para algumas questões. A coordenadora do setor e assistente social da Apae Aracaju, Ingrid Walleska, reforça a importância de se cobrar a aplicação da lei às autoridades competentes. “O direito deve ser assegurado independente do cordão. Mas com a aplicação dessa lei, é importante se realizar um trabalho de conscientização do uso correto dessa ferramenta. O cordão não pode ser banalizado, muito menos ser utilizado como um acessório de moda. Ele é um recurso que deve ser usado apenas por pessoas com deficiências ocultas para que elas tenham a oportunidade de passar por menos constrangimentos em certas situações cotidianas. Por isso, devemos respeitar o uso da fita de identificação e cobrar do poder público a fiscalização e o seguimento desta lei, para que ela não fique só no papel.” esclarece a assistente social. 


 

O que são deficiências ocultas? 

As deficiências ocultas são aquelas que podem não ser percebidas de imediato, como é o caso da surdez, do autismo e das deficiências cognitivas, entre outras.

Em outras palavras, elas não possuem sinais físicos óbvios, embora possam afetar significativamente a vida cotidiana das pessoas. Para representar e identificar essas necessidades especiais, a fita com desenhos de girassóis é uma convenção internacional.